Hoje acordei com aquela estranha familiaridade da dor que não grita, apenas ocupa. Ela não vem como um trovão, não tem o espetáculo de uma tragédia anunciada. É mais como o amianto da canção: silencioso, letal, inevitável. Vai se infiltrando pelas frestas da pele, adentrando os ossos, até que já não sei se sou eu ou apenas a sombra do que um dia tentei ser. O sol atravessava a cortina com uma ousadia absurda, como se tivesse o direito de iluminar o que já não quer ser visto. E eu ali, com o corpo estendido na cama como quem jaz acordado, sem funeral, sem flores, sem adeus. É isso que me tornei: uma ausência em forma de gente, um nome na boca dos outros, uma presença que já não habita si mesma. Há dias em que penso na morte com uma ternura assustadora. Não como fim trágico, mas como alívio. Como um cobertor que, enfim, aquece o frio da existência. Mas não é só o desejo de morrer é o cansaço de viver sem estar viva. As pessoas dizem: "Mas você tem tudo, tem saúde,...