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Do campo

Hoje o campo está coberto de branco
Lágrimas brancas
E cada lírio que arranco
faz com que de mim caiam mais flocos.
Jurei cuidar e aquecê-los no inverno duro
Mas vejo que a pior barreira é o futuro
Ou o escuro que cegou minha razão.
Não devia ser.
Hoje passam os dias
E em alguns deles a dor transcende às palavras
Outros, arranco lírios novamente.
Temo chegar o dia em que não me caibam mais as palavras
E catastroficamente seja o fim.
De todo esse meu orgulho por não semear lírios mais ao alto.
Da falta de preparo para o cultivo e cuidado.
Que seja o fim da escravidão de mim mesma
Vai ser blindado o meu querer
E a escolha desse cultivo nem preciso que tent'entender
Só que passe a olhar e ver
Que no meu arranjo possa ter Lírios e Bocas-de-leão
Sem que precise explicar o motivo da união
E do laço vermelho que vinde a colocar
E direi que "em seu torno" tornarei a arcar
Se fosse um barco, 
então a velejar
E combinarei o lírio com a minha falta, 
sejam elas muitas.
Mas por hora, tenho apenas os lírios 
Cabe também lembrar que devo planta-los onde tenha mais Sol.

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