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O valor da graça


          Desde a ultima história, o ultimo adeus, tantas coisas aconteceram. Quem diria que o mundo vai além do egocentrismo moderno e, pasmem! Quem diria que o mundo foi além de mim?! Pois nesses dias, as paredes pintadas de bege e a corda arrebentada do violão não representaram um problema, e sim, uma distração. Uma distração daquilo que me tornei, mas que evito pensar para que a culpa e o desgosto não sejam convidados inconvenientes. Antes, via romantismo naquilo que beirava o surreal e o mágico. Hoje? Bom, prefiro que os contextos amorosos não se cruzem e que estejam sempre presentes nas mais belas palavras dos pequenos poemas de rua. 
        Então... Nós amamos as pessoas ou aquilo que criamos ao redor delas? Aquilo que gostaríamos de receber, talvez. Mas não é sobre amor, pelo menos não desse amor...Uma mania de rotular tudo e de taxar o que pode e o que não pode ser feito acaba cercando nossa alma de voar além do que é esperado. Por que engaiolar as coisas bonitas e impor que sejam qualificadas. Quando foi a ultima vez em que tu fizeste algo fora do teu cotidiano e não tiveste medo do que poderiam dizer de ti? Quando foi a ultima vez que deste risada sozinha, quando ninguém achou graça da piada e tu continuaste rindo sem se importar? Será mesmo que tu não olhou em volta e sentiu vergonha por estar sendo diferente?
        Essa mesma vergonha que te impede de rir, de amar e de se libertar é a mesma que sufoca e que esmaga a bondade e fé no mundo daqueles que estão firmes na busca de algo melhor.Porque nem todas as histórias tem um fim reflexivo e nem tudo vem com uma lição milagrosa e que vai te fazer ser alguém melhor. É a mágica que implantamos em tudo para que depois de fazermos o mal ou sermos pegos pela vida, possamos dizer: Eu aprendi. Não é apenas assim. E não será enquanto tu não puderes rir e sorrir na rua sem que seja oprimido e fuzilado com olhares. As paredes do quarto precisam ser limpas, as cordas trocadas mas eu apenas precisava poder mostrar quem sou.

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