Aurora
Era um dia qualquer, sabe? Como qualquer outro setembro desses meus vinte anos. Ramtel pousou ao meu lado um tanto sorridente por ter adquirido suas novas asas mas sua feição ainda mostrava descontentamento. Quando o questionei, notei que seu olhar foi direto ao chão e, logo após, uma lágrima escorreu. Quis indagá-lo mais uma vez, mas algo dizia que aquele não era o momento.
Ramtel seguiu fazendo seu trabalho e eu o meu. Cada dia que passava, o mundo parecia menos colorido para mim. Talvez eu devesse prestar mais atenção nisso, mas o fato é que me preocupar em achar que posso me dar ao luxo da preocupação comigo mesma foge da minha linha de conforto. Que linha? Tu pode estar se questionando. Mas é uma linha da qual sequer lembro quando tracei. É uma linha que paira como uma corda, um nó de forca em uma arvore qualquer. De pitangueiras.
Mais uma vez, ao fim do dia, Ramtel sentou-se ao meu lado e conversamos sobre como as coisas estavam passando naqueles dias. Nesse momento, Aurora estava sentada em minha frente, ali... do outro lado da mesa traçando rotas e planos para qualquer ideia mirabolante que estivesse passando por sua cabeça. Ah, acredito que eu e Ramtel tenhamos esquecido de mencionar Aurora.
Aurora também é um anjo caído, assim como Ramtel e Kasyade. Ela é, provavelmente a mulher mais bela e generosa que pôde habitar nos céus e agora aqui. Aurora não perdeu suas asas ao cair, pois são tão delicadas e ao mesmo tempo fortes como londsaleíta. Seus cabelos também são um tipo de metamorfose, assim como ela. Mas vocês devem se perguntar o motivo de alguém como ela ser condenada a vida de anjo caído... Pois bem,seu pecado foi a inteligência, a timidez, a calma e ao mesmo tempo a explosão.
Então, por horas ficamos eu, Aurora e Ramtel escrevendo, lendo e mirabolando planos. Três destinos. Dois imortais. Eu. Mais tarde, aurora resolveu colorir seu mundo de aquarela e Ramtel se pôs a chorar. Não pude deixar de sentir o cheiro de lavanda no ar quando abracei forte o anjo. A temperatura do local pareceu mais quente e a chuva mais amena.
-O que foi, meu amigo? Perguntei
-Tua mortalidade assusta-me.
-Teu anseio pela chegada... gaguejou... Assusta-me.
-Não consegui sequer balbuciar.
-Aurora não caiu. Saibas que ela veio e viria de onde fosse só para te salvar.
... W.K
O pecado sem culpa é um ato extremo de fé.
ResponderExcluirGK