Eu e mais meia dúzia.

     


Toda noite era a mesma coisa. Insonia. Toda noite eram pensamentos ruins e aquela vontade de que todos os seus problemas sumissem... Pensava em suicídio? Sim, o tempo todo. Para os outros, era bobagem, falta do que fazer e também falta de Deus no coração. Mas Deus poderia salvá-la dela mesma? Da forma como sente o mundo e da forma como as coisas a atingem? Não. Ninguém podia, na verdade.

Certo dia ela acordou bem, querendo sair de casa e com um bom humor que há tanto tempo não aparecia. Ela não lembrava mais como era a sensação, mas quis aproveitar. O dia estava bonito, mesmo que nublado e frio e ela adorava dias assim. Na verdade, ainda adora. 
      No intervalo entre uma aula e outra ela escreveu no diário "Quando tempo eu não sabia como era me sentir bem. Será que é assim mesmo? Será que só tô bem agora pra depois tudo desabar?" aquilo me deixou intrigada. E vocês podem estar pensando: Ela não poderia simplesmente aproveitar esse dia sem preocupações? Pois é, no começo me questionei sobre isso também. E descobri que as vezes é tão difícil poder aproveitar um dia nublado com aquele ventinho gelado sem medo de vir uma tempestade e alagar a casa, pois como estava tudo bem deixou as janelas abertas para refrescar o ambiente. É assim com o coração dela também.
      Ela almoçou, voltou para a aula e continuou num misto de ~tentando aproveitar tudo o que esse dia pode fornecer~ e ~esperando e quase enlouquecendo pelo medo de quando a depressão chegar~. Ok, isso parece ruim, mas razoável ao mesmo tempo, né? O problema é que toda vez era assim. Um ciclo sem fim. E cada vez mais dias de medo e apreensão vinham. Ela podia contar nos dedos quantos dias do mês conseguia aproveitar sem a preocupação de precisar fugir de tudo. Mas ela nem sabia do que devia fugir. Apenas sentia. Até que descobriu: era dela mesma. Mas como fugir de si mesmo? Voltamos ao começo... 
      Ela pensava no suicídio. Dava indícios as vezes, mas isso era seu inconsciente pedindo ajuda. Era sem querer. Os machucados eram sem querer. A dor que o mundo a causava não parecia ser sem querer e isso ela não compreendia. Se perguntava todos os dias que mal fez para que nada conseguisse ser estável ao seu redor. Eram questionamentos e mais questionamentos todos os dias. 
      Perdida o tempo todo com tantas palavras, possibilidade e teorias de tudo que estava acontecendo, aconteceu e poderá acontecer. No começo ela sentia-se calma nos braços de sua amada, porém haviam dias que sua cabeça não dava descanso nem nesses momentos. E era mais um ciclo. As preocupações eram sempre ao redor do que poderia acontecer. 
      Ela procurava algumas saídas boas, mas a cabeça não deixava. Então todos os dias ela dava voltas e voltas no quarteirão para ver onde deixou cair aquela peça do quebra-cabeças que tinha escrito "estabilidade". E foi difícil de ela descobrir que era essa peça que faltava. Quando parava para pensar era tudo sem nexo, mas se não parasse e olhasse sua vida como parecia, ou seja, bagunçada, acabava entendendo o porque de tanta angústia e dor. Eu dizia: Quem sabe a gente tenta melhorar uma coisinha de cada vez, sei lá, sabe? Eis que se deu por conta e soube a raiz do problema. Hoje a gente se ajuda, viram? Hoje a gente até consegue uma sincronia. Somos eu, ela e quem faz o meio de campo é a New e a Sed.

Somos Felicidade, Neutra, Sádica e Melancolia.

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