Pular para o conteúdo principal

Quebra rochas

 O mundo pode ser um lugar terrível, um verdadeiro inferno na terra. Uma criança, que deveria ser protegida e amada, pode experimentar a pior forma de crueldade e violência que existe. A inocência é roubada e a vontade de viver é sugada pelo terror e pela dor que ela sente. Durante oito anos, essa criança viveu a dor que não pode ser expressa em palavras. Uma dor que é tão profunda que a mente simplesmente não consegue processá-la. Ela se sentia desesperada, sem esperança, sem qualquer resquício de alegria ou felicidade. A culpa era sua companheira constante, mesmo que ela não tivesse culpa de nada.

Essa criança cresceu, mas os pesadelos e os traumas permaneceram. Às vezes, ela se sente como se estivesse vivendo em dois mundos diferentes - o mundo real e o mundo dos seus pesadelos. Ela se sente dissociada, como se estivesse assistindo a vida passar de longe. Os pesadelos a assombram mesmo quando está acordada, e ela se pergunta se algum dia poderá ser livre disso.

Mas, apesar da dor e do sofrimento, essa pessoa luta com bravura todos os dias. Ela sabe que a dor ainda está ali, que os pesadelos ainda vão vir, mas ela continua lutando. Ela se agarra às coisas que ama e às pessoas que ama, e encontra força nisso. Ela quer ser o melhor que pode ser, não só para si mesma, mas também para aqueles que ama.

A dor ainda está lá, todos os dias. Mas essa pessoa é uma verdadeira guerreira, que luta com toda a força que tem. E talvez, um dia, a dor diminua um pouco. E talvez, um dia, ela possa ser livre.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A história de Kasiade | Parte 1

K asíade era o anjo preferido de Zeus. Tudo seguiu em “ordem” por centenas de anos, até que ele conheceu Kya enquanto saia escondido do Olimpo para entender os mortais. Fascinado por sua beleza e seus olhos castanhos, o anjo se apaixonou. Porém, a paixão o trouxe consequências. Um dia, enquanto Kasíade estava indo aconselhar-se com Delfos um encontro inesperado acontece. Zeus, o poderoso Deus do Olimpo estava o esperando próximo o bastante para que ele sequer pudesse pensar em fugir. Ele olhou para Kasíade com desdém e disse: “Você foi um tolo em se apaixonar por uma humana e revelar a verdade a ela. Você quebrou as regras e agora precisa suportar as consequências.” Kasíade olhou para Zeus com tristeza em seus olhos e respondeu: “Eu amava essa humana e não pude suportar a ideia de escondê-la da verdade. Eu sabia que isso iria me custar caro, mas não pude deixar de agir com o meu coração e mostrar minha verdadeira forma a ela ou até mesmo deixar que a mulher que amo fosse enganada a vid...

Entardecer

Há alguns meses, duas histórias começaram a se roçar nas bordas do tempo, como fios invisíveis que se reconhecem antes de se tocarem. Por escolha ou por destino, e talvez não haja diferença entre um e outro, cruzaram-se.   A Loba havia detido seu próprio tempo. Parou entre um suspiro e outro para observar o sol morrer pela enésima vez, num tom de laranja que só existe nos instantes em que o mundo parece lembrar de respirar. Ali, imersa no crepúsculo, ela percebeu não estar só. Havia outro ser, igualmente imóvel, absorvendo o mesmo instante, talvez pelo mesmo motivo: o cansaço do eterno.   Quando seus olhos se encontraram, algo na realidade vacilou. Ambas precisaram certificar-se de que não eram miragens, nem fragmentos de memórias quebradas. A princípio, tentaram sustentar o olhar, mas logo cederam e voltaram-se para o chão, como se o pôr do sol, agora, fosse menos intenso do que o que emergia dentro delas.   A presença da outra era um paradoxo em forma de carne e luz. Ca...

Companhia

As ruas transbordavam passos e vozes. Um oceano de pessoas avançava em direções múltiplas, cada rosto uma máscara, cada gesto uma partitura repetida. Eu caminhava entre el a s, tragada pelo fluxo, mas sentindo-me como pedra. Havia música vind o de algum lugar distante, vida se exibindo em excesso e em mim apenas um vazio que mastigava as margens da alma.   Por motivo algum a multidão me feria com sua abundância. Cada abraço alheio era navalha contra a pele, cada gargalhada me lembrava do silêncio interno que insistia “aqui” . Caminhava e, mesmo cercad a por centenas de vultos e sons , o vazio conturbado se fazia mais presente que nunca, como uma fera que acompanha de perto a presa e não a deixa respirar.   E foi então que a percebi. Encostada no corredor lateral de um préd io antigo, meio submersa na penumbra. Seus olhos não riam, não pediam nada, não prometiam conforto. Apenas observavam. Havia uma quietude nela que parecia me reconhecer, como se também carregasse de...