Acordar.

     Como proceder, se as madrugadas viraram dia e os dias estão cada vez mais escuros? Como ele tentava ver teus olhos, lindos olhos castanhos, por trás de toda aquela escuridão e dor. Simplesmente não dava. O tempo era teu inimigo, naquele mesmo tempo. 
     "Um instante, só um instante. É de vagar, mas tão constante"
     Desesperado por cada esquina, encontrando em cada parada um olhar vazio, uma decepção, uma lágrima sendo contida ou a sua própria decepção. Quantas decepções já tivera? Quantas decepções eu mesma já tive? Mas de que adianta, se sempre o que não nos faz bem é o que mais nos manipula e nos joga no calabouço do horizonte escuro.
     Em um ano bissexto, os dias passavam mais de vagar e a contagem parecia infinita. O inútil soluço abafado de todas as noites e a cara amassada durante a manhã quando usava como desculpa o sono, eram cada dia um fardo maior para se carregar. Manipulando a própria liberdade, desestimulando todo e qualquer riso, sorriso e memória sem aflição. Não por gosto, simplesmente ele tentava de tantas formas ser a felicidade que o mundo queria, ser a força mestra que seu Deus pedia e simplesmente não dava. As máscaras se despedaçavam aos poucos e a fúnebre derrota estava vindo.
     O mal que fez ao mundo finalmente reverteu-se à ele. Mas, quem sabe... ele tenha mudado? Quem acredita na mudança alheia após ter levado tantos tapas, socos e rasteiras da vida? A contagem da salvação divina é regressiva e o dom do bem é simplesmente imoral. Imoral, sim. Aprender a ser bom não é um dom, as vezes a bondade interliga os fatos e o mundo te vê como depósito de mentiras, é como se fosse... ahn... uma espécie de "Venham, enganem um idiota aqui!" esse é o preço da bondade.
    A maldade tem seu preço, quem sabe. Sabe-se lá algo sobre a justiça ou sobre as reais consequências. O fato é que viver trás elas até aqui e isso torna-nos vulneráveis. Esse é um conselho que dou à minha consciência, ou simplesmente à ele, como preferir. Tem vezes que realmente penso no quão desconfiguradas as coisas estão. Onde está meu grilo da sorte ou, quem sabe, um gênio mágico?
    "Quando os olhos fecharem e as luzes apagarem, lá estará o som da noite. O som do coração. Siga o som do coração, se é que me entende. Se é que ainda lês isto, meu anjo. Siga o meu som."
Creio ter ouvido, finalmente, minha consciência. Creio que crer em simples palavras não deva ser o forte da manipulação nem da garota ao qual ele dirigiu-se. Não sei. Não posso afirmar mais nada, pois depois de toda e qualquer afirmação, vou reafirmar aqui que estou vivendo e vivendo estarei trazendo consequências. Então, acho que chegou a hora de abrir os olhos e acordar.

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