Anjos não caem.

   Anjos caem na Terra sem pretensão nenhuma. Simplesmente caem e devem aprender a conviver com mortais, os mortais que eles deveriam proteger e que... Bom, a verdade sobre os anjos é o que a maioria das pessoas não enxerga.
    Um deles, cujo nome era Ramtel é o protagonista deste desastre. Ele é o protagonista da desilusão de Deus para com os humanos e de uma humana para com os anjos. Na verdade, anjos são maus e traiçoeiros. Por isso acabam tendo que conviver com a raça que mais odeiam: seres humanos. Bom, eu até entendo o fato dos anjos odiarem tanto os humanos, afinal, destruímos tudo o que vemos pela frente, seja concreto ou abstrato, simples ou composto.
Ramtel não era diferente, ele simplesmente odiava a nossa existência e não aceitava como seu mestre passava horas e horas consertando erros de criaturas ironicamente errantes, além de ver sonhos e sonhos serem postos fora com as fraquezas destes seres. Mas, sinceramente acho que a maior mágoa dos anjos é não serem Deuses, nem sequer Deuses menores. São apenas anjos, seres com características humanas e mentes muitas vezes tão perversas quanto.
    Não sei definir quando, mas em algum dia de março as coisas começaram a dar errado quando o anjo julgou seu mestre e os outros por darem credibilidade a almas sem precedentes, almas sem cura e salvação. Afrontou, indagou, indignou-se e nada o fazia entender o que poderia acontecer de bom aqui na Terra. 
    ...
    O anjo abriu os olhos, ainda sentindo-se tonto... Tontura, como ele sabia que era isso o que estava sentindo no momento? Como ele pode definir uma... emoção? Olhou em volta e não sabia onde estava, nem sequer podia saber o que havia acontecido, ãhn, na noite passada? Quantos dias haviam se passado?... Talvez alguns. Viu-se em um quarto com diversos mapas, anotações e cálculos químicos em cima de uma escrivaninha. Um ambiente com meia-luz, janela e persianas fechadas, pôsteres e uma garota visando-o de modo assustador. Uma humana. Uma ameaça, pensava Ramtel.
    Não pensou em perguntar quem era a garota, simplesmente por não se importar com tal, apenas perguntou como ela havia o encontrado. Respondeu que poderia estar ficando louca mas que sabia de onde ele havia vindo e que conseguia ver através da névoa espessa que colocaram sobre ele. Via asas negras, ou melhor, via os destroços do que um dia foi um ser alado pois no lugar de asas haviam apenas algumas penugens, arranhões e cortes.
    O anjo nem sequer lembrava de suas asas e quando deu-se por conta, viu que as asas estavam exatamente como ela disse. O que estava acontecendo, afinal? Vir parar com uma humana e se tornar um deles, era esse o castigo divino para o fim de seus dias? Por um segundo, Ramtel viu-se caindo de joelhos ao chão e pedindo para que o arrastassem direto para o inferno mas reergueu-se e lembrou de um juramento que seres alados fazem após seu nascimento: "Nunca, jamais temereis que possas apossar-te de mim, ser inferior." Enquanto isso, a garota olhava assustada sem saber o que poderia acontecer a partir dali e se realmente deveria contar como o anjo chegou ali.
    - Quem tu és? Digo, qual teu nome? Perguntou o anjo
    - E... Erin Steven. Respondeu ela, gaguejando.
    Ninguém conseguia deter a decepção imensa dele por estar de vol... Ele pensou, por um segundo que já estivera ali, naquele quarto, vendo todas aquelas coisas. Não, não poderia ser. Ele não visitava os mortais por diversão, apenas cuidava de alguns errantes por algum tempo. Mas não aquela garota... Aquela, Erin. 
    Por que uma confusão tremenda começou a tomar conta de sua mente? Sentimentos humanos, sensações, tentativas de lembranças e dores. Ele não queria isso.
    Levantou-se e foi em direção a escrivaninha empoeirada, tocou nas anotações e imediatamente soube... Soube de tudo o que mais temeu a vida inteira. Uma das folhas estava assinada

         "Trabalho para entregar no dia 5 de novembro de 1990, aluno Ramtel Steven."
         Ao lado, cartas de suicídio e um pedido de desculpas à irmã, que na época ainda tinha 4 anos.

        "Minha doce criança, peço que leias isso quando puderes entender que a vida do teu irmão chegou ao fim e que não posso cuidar-te mais como deveria e queria. De Ram. Para Eri, minha criança favorita." 

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