Dói, mãe.

    Passeava de mãos dadas junto à ti, mãe. Corria pelas ruas contigo, irmão. Por quê? Quanto tempo é necessário para construir uma confiança já que, afinal, ela pode ser quebrada em segundos, em atos e sem nenhum contrato pode simplesmente ir pelos ares. E foi. A dor vem, a dor machuca e isola qualquer coisa boa para que não me atinja. Dói, de novo. Me tire daqui, amor!
    Quantos anos serão necessários para superar tudo isso? Quantos anos sentirei dores, desconfortos, ânsias e desgosto ao vê-los? Há uma década essa angústia assombra todas as minhas noites e me impede de ser eu mesma. Dentre os meus 16 anos, 10 deles eu não fui eu mesma?! Isso quer dizer que ainda sou uma criança de apenas 6 anos? O que mais vai ser preciso amadurecer para esquecer as mentiras, familia? O que mais vai ser preciso para que as noites, as cobertas, o sufoco... o maldito sufoco simplesmente passe?
    É só mais uma dessas horas em que o peso do passado recai sobre mim, mãe. É só mais uma hora em que me pergunto: eu fiz algo errado?

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